2024: Um Ano de Desafios e Oportunidades para as Fintechs Brasileiras

por | 31 de janeiro de 2024 | Com a Palavra | 1 Comentário

O ano de 2023 testemunhou uma recuperação moderada em comparação com 2022 no âmbito do crescimento econômico brasileiro, com o PIB (Produto Interno Bruto) projetando uma variação positiva de 3,1%, sujeita ainda à conclusão do 4º trimestre. Contudo, as projeções para 2024 sugerem uma desaceleração, estimando um crescimento de apenas 1,6%, conforme dados do IBGE.

Esta perspectiva para 2024 é reflexo de uma série de fatores, incluindo revisões nas taxas de juros mundiais, ainda em um processo gradual de desaceleração, a diminuição da demanda externa e as incertezas políticas em vigor.

O aumento nas taxas de juros, iniciado pelo Banco Central para efetiva contenção da inflação, apresenta-se como um ponto de inflexão. Em 2023, foi iniciado o processo de redução da Selic, atualmente posicionada em 11,75% a.a. Conforme indicado pelo Boletim Focus, há previsões para encerrar 2024 com uma média de 9%, com algumas instituições aventando percentuais entre 8,75% e 9,25%. Embora esta faixa seja eficaz no controle inflacionário, impõe restrições à atividade econômica ao encarecer o crédito, reduzir investimentos diretos e retrair o consumo.

A desaceleração da demanda externa, resultante da diminuição do crescimento do PIB dos Estados Unidos, principal parceiro comercial do Brasil, de 2,7% em 2023 para 2,4% em 2024, acrescenta outra camada de complexidade ao cenário econômico.

Adicionalmente, a incerteza política, marcada por tensões e desafios relacionados à segurança jurídica em meio a uma intensa polarização, contribui para a falta de previsibilidade no tocante à manutenção de programas sociais e investimentos em infraestrutura.

Ao abordarmos as Contas Públicas e a Demanda Interna, o Boletim Trimestral de Estatísticas Fiscais do Governo Geral, publicado pelo Tesouro Nacional, revela um impacto positivo dos gastos públicos no PIB, aumentando de 45,5% em 2022 para 48,2% em 2023. Entretanto, apresentou um desempenho negativo, com um déficit primário de R$ 143,2 bilhões, correspondente a 2,8% do PIB, uma deterioração significativa em relação ao ano anterior.

Este desequilíbrio nas contas públicas é atribuído, principalmente, ao aumento dos gastos públicos, destacando-se os crescentes custos com pessoal, elevados em 12,5%, e os gastos com previdência social, com incremento de 10,2%. Os juros da dívida pública também contribuíram para o aumento do déficit primário, elevando-se em 12,4% em relação ao ano anterior.

Ao final de 2023, a dívida bruta do governo geral (DBGG) atingiu 74,4% do PIB, um acréscimo de 0,7 ponto percentual em relação ao ano anterior. A dívida líquida do setor público (DLSP) também apresentou aumento, passando de 57,1% para 59,9% do PIB.

Para aprimorar o desempenho das contas públicas, o governo se encontra diante da delicada escolha entre medidas para controlar o crescimento dos gastos públicos sem afetar os principais investimentos e/ou o menos desejado aumento da arrecadação tributária.

O avanço das reformas econômicas, como a tributária e administrativa, desponta como uma possibilidade para melhorar o ambiente de negócios e estimular o crescimento econômico. Entretanto, a implementação dessas reformas carrega consigo diversas incertezas, desde as matérias propostas até a interpretação e elaboração de leis complementares.

Em linhas gerais, as perspectivas econômicas para o Brasil em 2024 apontam para uma desaceleração e um panorama permeado por incertezas. No entanto, alguns fatores podem contribuir para impulsionar o crescimento, notadamente por meio do crédito e do consumo.

Perspectivas e Papel das Fintechs na Economia Brasileira e Mundial em 2024

Agora, voltando nosso olhar para as Fintechs, que assumem um protagonismo cada vez mais expressivo. Em 2023, esse ecossistema movimentou R$1,5 trilhão, um aumento notável de 50% em relação ao ano anterior. Esses números, provenientes do estudo “Mapa do Fintechs 2023” da PwC, analisando dados de 1.200 fintechs brasileiras, fornecem insights sobre o tamanho, crescimento e tendências desse setor no Brasil.

Para 2024, as Fintechs estão prontas para expandir seus horizontes, impulsionadas por diversos fatores:

  • Digitalização da economia: A pandemia de COVID-19 acelerou a digitalização, abrindo novas oportunidades para as Fintechs.
  • IA e hiperpersonalização: A crescente demanda por serviços financeiros personalizados, tanto para pessoas quanto para empresas e setores específicos, torna-se uma realidade. Em um cenário de competição acirrada, a inteligência artificial e a personalização dos produtos por meio de uma jornada bem desenhada ganham destaque.
  • Surgimento de novos mercados: Fintechs exploram nichos em ascensão, como criptomoedas e seguros.
  • Produtos pós PIX: O Pix, revolucionário em suas relações de custos e níveis de serviço, continua a moldar novos serviços e arranjos de plataforma.
  • Crossborder: De acordo com pesquisa da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), o comércio eletrônico crossborder no Brasil deve atingir R$ 100 bilhões em 2024, um crescimento de 30% em relação a 2023. Esse aumento cria oportunidades tanto para empresas brasileiras expandirem para novos mercados quanto para empresas estrangeiras ingressarem no mercado brasileiro.
  • Tokenização: Segundo estudo da PwC, o mercado de tokenização no Brasil deve atingir R$ 100 bilhões em 2025, representando um crescimento de 50% desde 2023. Este crescimento é impulsionado pela regulamentação do Banco Central do Brasil, inovações que possibilitam novos produtos e serviços financeiros e uma crescente demanda por produtos e serviços tokenizados.

Em síntese, enquanto os indicadores econômicos sugerem cautela, as Fintechs se destacam como agentes impulsionadores de transformações positivas no cenário financeiro, proporcionando inovação, eficiência e soluções personalizadas em um horizonte economicamente desafiador.

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1 Comentário

  1. Leandro Faria

    Perfeita e apurada análise! Sim, 2024 será mais um ano de desafios para essa industria (Fintechs) que ano após ano “teima” em continuar crescendo e impulsionando nossa cambaleante economia!

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