Nos últimos duzentos anos, temos sido muito profícuos no desenvolvimento de ciências preditivas.
Iniciamos com a climatologia, afinal os produtores rurais sofriam demais com a natureza instável do clima, cujo comportamento se converte no maior impulsionador ou ofensor da produtividade agropecuária.
O conhecimento ancestral, empírico, a observação aguçada e principalmente o registro organizado das ocorrências, permitiram encontrar padrões que se repetiam no tempo e isso mudou o jogo!
Sendo mais capazes de alguma previsão do período de chuvas e do período de estiagem, os produtores conseguiram aumentar sensivelmente suas capacidades produtivas e a Sociedade, com mais oferta de alimentos, pode evoluir, prosperar.
Da climatologia para as demais áreas do pensamento humano foi um pulo. Em cada experiência de nossa atuação, começamos a olhar o passado e tentar interpretar padrões que nos permitissem saber o que esperar do futuro e foi assim: no crédito, na cobrança, nas ciências médicas, na geologia, em muitas frentes, inclusive uma que está entre as que mais gosto, a Antropologia do Consumo!!
Após eras de consumo exclusivo à subsistência, com o advento do êxodo rural e da Revolução Industrial, houve uma explosão de consumo sem precedentes e, portanto, sem padrões prévios que permitissem alguma predição.
Necessidades foram criadas, novos produtos surgiam a cada dia e passavam instantaneamente a fazer parte do desejo das pessoas. À medida que a urbanização foi criando as cidades com seu maior adensamento populacional, o ciclo de novas criações e necessidades se repetia e aumentava em volume e com o tempo, novos padrões foram se estabelecendo e com isso a necessidade de entender esses padrões.
Essas análises, começaram por demonstrar uma característica muito antropológica mesmo, pois os padrões passaram a ser cada vez mais granulares: o comportamento de consumo das sociedades tem ancoragem na história daquele agrupamento, na etnia, no clima (hábitos de frio e hábitos de calor por exemplo), de geografia (espaço, terras mais e menos férteis etc.).
Ou seja, a Antropologia do Consumo foi se instituindo como uma ciência cujo peso das multivariáveis exógenas excede o peso das multivariáveis endógenas e, portanto, quanto maior a granularidade da análise, do momento histórico, do desenvolvimento social etc. Maior a assertividade, pois os comportamentos de consumo podem variar demais.
Olhando somente o nosso Brasil, uma análise rápida já demonstra esse fato, pois o comportamento de consumo se diferencia demais por microrregião. Por exemplo, se olharmos somente o NE brasileiro, se colocarmos a lupa em um Estado como a Bahia, ainda assim os consumidores na caatinga em muito se diferenciam dos consumidores litorâneos!!
Portanto, trata-se de uma ciência muito granular, mas que ainda assim, apresenta padrões que valem ser avaliados e por isso mesmo ela é muito interessante, muitos padrões por agrupamentos humanos diferentes, mas ainda assim expressivos.
E, modelos preditivos bem desenvolvidos encontram esses padrões que permitem entender melhor movimentos futuros.
Essa ciência, comumente referida de modo recorrente aos trabalhos de Douglas e Isherwood (1978) e Bourdieau (1979), como pilares de sua organização, se desenvolve há pouco tempo, cerca de 45 anos, mas ainda assim, uma ciência que já produziu e produz muito resultado prático, vide cases OAKLEY, AUDI, LOUIS VUITTON e tantos outros que comprovam a tese.
Mas e agora?! Essa pergunta me ocorre pois em um dos elos da cadeia de consumo, está o PAGAMENTO. Etapa das mais sensíveis, mas que permaneceu sem grandes alterações nos últimos cinquenta anos: dinheiro em espécie, cheques, cartões (crédito, débito, pré-pagos), das bandeiras e/ou os Private Labels, com pequenas variações intrínsecas a cada um desses meios.
Agora, é justamente esse elo (o do Pagamento), que de oito, dez anos para cá vem sofrendo alterações significativas baseadas em tecnologia que se democratizou, trazendo muitas novidades de verdade: instantaneidade, transoperabilidade, open banking e finance, biometria, moedas algorítmicas, tokenização, etc.
O dinheiro muda de mãos de forma mais rápida, menos intermediada e, portanto, mais barata, com jornadas de menor fricção aos envolvidos.
Em nosso país tudo isso se juntou a um REGULADOR mais atualizado, pró negócios e muito competente tecnicamente, vide estatísticas do PIX, tão bem abordadas no último artigo de meu sócio LINCONL ROCHA, aqui na ULTRATALKS. Produto de absoluto sucesso e volume de operações em tempo recorde.
Imagino o quão desafiadora e apaixonante essa onda de novidades no tema pagamento tem sido aos antropólogos do consumo.
Imagino a surpresa acerca da obsolescência instantânea de modelos que estavam estabilizados, pois o peso desses novos jeitos de pagar e receber dinheiro, está sim alterando os padrões de consumo, está fazendo surgirem novas fortunas, novas profissões, novos modelos de negócios, novas formas de circulação e de acumulação do dinheiro.
A nós, empreendedores e/ou executivos decisores nessa nova realidade, nos cabe estarmos atentos às novas competências necessárias, aos novos tipos de profissionais que devemos alinhas às nossas fileiras. Sejam muito bem-vindos, cientistas de dados, modeladores algorítmicos, gestores de tráfego, media specialists etc. Todos os espíritos jovens que encarem a mudança como oportunidade.
O FUTURO está cada vez mais próximo do presente e saber “surfar” as novidades, trazer competências que auxiliem nesse entendimento de forma rápida e efetiva, será o ponto de separação entre o SUCESSO e o FRACASSO!!
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