Efeitos da tokenização da economia: Carlos Akira entrevista Bruno Gomes, da CVM, e revela tendências para 2024

por | 9 de fevereiro de 2024 | UltraTalks | 0 Comentários

A última reunião PAGOS foi uma excelente oportunidade para traçar e entender os panoramas do que vem pela frente no mercado financeiro e setor de meios de pagamento no Brasil. Aproveitando a presença de Bruno de Freitas Gomes, superintendente de Securitização e Agronegócios da CVM, Carlos Akira, diretor de Relações Governamentais da PAGOS, conduziu uma reveladora entrevista. O tema central foi avaliar os efeitos da tokenização na economia e as projeções para 2024.

A seguir, a UltraTalks reproduz os principais trechos da entrevista:

Akira – Nesse cenário de tokenização da economia, quais devem ser os principais benefícios para os empresários e para as pessoas físicas?

Bruno – A CVM sempre olha o lado do investidor e também do empresário que está captando no mercado de capitais e, sendo bem objetivo, a gente vê que toda essa tecnologia do Blockchain e a tokenização vem trazer um potencial benefício de reduzir custos de mercado, reduzir custo de distribuição para chegar um produto mais barato para o investidor.

E também, possivelmente, trazer mais segurança para todo esse processo, onde o investidor consiga enxergar todo o tracking do investimento dele de uma forma mais segura e talvez mais barata do que tem, do que existe hoje. Mas é algo que a gente ainda está avaliando, estudando.

Ninguém consegue afirmar com certeza que você consegue substituir toda a infraestrutura de mercado que a gente tem hoje pela tecnologia do Blockchain. Quais partes participantes a gente vai precisar manter, ou continuar todos os participantes, mas com um trabalho mais eficiente, então a gente no mercado de capitais tem uma série de participantes para garantir que o captador e o investidor estejam em sintonia sempre. Então a gente fala do custodiante, do depositário, do registrador. Esses papéis eles vão se manter, vão mudar, vão ficar mais eficientes e mais baratos? É uma pergunta que a gente se faz todo dia e ainda não tem a resposta.

Akira – Uma outra questão, eu sei que é um pouco um exercício aí de futurologia. Mas você acredita que o mercado vem evoluindo bem, os players tendo um bom comportamento seguindo as recomendações da CVM? Você acredita que a taxa de juros para o empreendedor captar dinheiro, e também a taxa que vai ser oferecida para o investidor, a gente consiga ter um bom benefício para os dois lados?

Bruno – Sem dúvida, Akira. Todo o propósito da captação via mercado de capitais é ter essa via alternativa para o empreendedor além do mercado bancário. Ele também olha para o mercado de capitais como uma forma de captação. Então, se ele tem ali uma esteira mais barata, mais eficiente para poder captar, ele vai conseguir captar por um juro menor. E o investidor, do outro lado, vai aceitar esse juro menor porque ele tem mais segurança, mais eficiência. Então é isso que o mercado de capitais tenta promover. Transparência, segurança, eficiência para o investidor do outro lado ter os recursos para quem está captando. E quem está captando sempre consegue captar mais barato. Então é a tendência. O mercado de capitais no mundo inteiro, países com mercado de capitais desenvolvidos, eles têm um nível de juro muito menor.

Akira – Acho que seria interessante a gente pegar algumas recomendações. Não da CVM, mas recomendações do Bruno, pessoa física. Qual mensagem você passaria hoje? O que você gostaria de passar para o empreendedor e para o investidor neste cenário de tokenização de ativos financeiros, ativos de investimento?

Bruno – A gente tem um cenário desafiador, que desafia os reguladores o tempo todo, não só a CVM, mas também o Banco Central, SUSEP, Previc. Todos os reguladores no mundo e as CVMs do mundo estão sendo desafiados o tempo todo com essa nova tecnologia, que vem trazendo novos players para o mercado todo dia. E, muitas vezes, players que desconhecem regras, desconhecem o regulamento, quais são os limites que eles podem atuar.

Então é importante o investidor estar atento. Primeiro, se aqueles players que estão procurando por uma oportunidade de investimento têm registro na CVM. Nem todo investimento precisa de registro, mas até onde a gente olha assim, na dúvida é melhor achar que precisa porque quase todos os investimentos, as modalidades de investimento hoje no mercado brasileiro principalmente, precisam passar pelo registro na CVM.

Por outro lado, a gente está vendo que o investidor tem demandado coisas nesse mundo da tecnologia que o mundo tradicional do mercado não entrega. Por exemplo, o investidor chega em casa e opera de madrugada, numa Exchange por exemplo de Bitcoin, e ele não consegue operar de madrugada na Bolsa, não é? Operar de madrugada com derivativos ali, avaliar os seus investimentos.

Então a gente tem essa preocupação, sim, também de olhar esse outro lado, essa necessidade dos novos investidores que usam essa tecnologia com esse propósito. Como que a gente consegue trazer isso para ambiente regulado também do mercado de capitais. Esta, então, tem sido um aprendizado enorme aí para todo mundo. O token sai toda hora: a cada segundo, milissegundo, tem um token nascendo. Este cuidado que o investidor tem que ter na hora de tomar sua decisão de investimento.

Akira – Por fim, o que o mercado pode esperar da CVM na parte de regulação e recomendação para este mercado de tokenização de ativos em 2024?

Bruno – O ano passado foi muito intenso, a gente se deparou com ofertas de tokens e tentou ajustar este mercado. Conversamos com muitas tokenizadoras, com associação de tokenizadoras, então a gente vem organizando o mercado. Conseguimos trazer muitas tokenizadoras para o mercado regulado. Então, a CVM ofereceu uma porta de saída para as tokenizadoras, já que a gente tem um ambiente experimental, não só o nosso sandbox, mas um ambiente experimental de intermediários que a gente chama de plataformas de investimento participativo, que são as plataformas de crowdfunding. A gente conseguiu fazer um mix do modelo de tokenização com essas plataformas e, objetivamente para 2024, a gente tem uma revisão nessas regras das plataformas para tentar acomodar mais tokenizadores. Então para 2024, curto prazo, é isso. E, também, há toda uma interação com o Banco Central. A gente está muito próximo do Banco Central com relação à tecnologia, porque o Banco Central está em vias de implementar o Drex, o Real digital, e faz todo sentido que o mercado de capitais também use o Real Digital. Não faz sentido você ter o Real Digital para uma parte da economia e não para outra. Então a gente também tem esse olhar e está junto com o Banco Central trabalhando para que as coisas caminhem em conjunto. A hora que o Real Digital estiver implementado ele também servirá para o mercado de capitais.


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